A Procrastinação na Perspectiva Junguiana: Entre o Ócio Criativo e a Sombra da Insegurança

“O adiamento não é apenas preguiça – é um sintoma de que algo em nós resiste ao movimento. O que a alma quer dizer quando o corpo paralisa?”

  1. A Procrastinação como Fenômeno Psíquico

Para Jung, a procrastinação pode ser entendida como um conflito entre consciência e inconsciente:

  • Potencial criativo bloqueado: A tarefa adiada muitas vezes toca em conteúdos não resolvidos (medo de fracasso, perfeccionismo, rejeição ao convencional).
  • A sombra da insegurança: Aquilo que evitamos fazer revela aspectos rejeitados de nós mesmos (ex.: “Se falhar, serei um impostor”).
  1. O Paradoxo do Ócio Criativo

Jung valorizava o tempo de incubação (intervalos entre esforços) como parte do processo criativo. Porém, a procrastinação patológica é seu avesso:

  • Ócio saudável: Caminhar, contemplar, deixar ideias amadurecerem no inconsciente (como Jung fazia em sua torre em Bollingen).
  • Ócio improdutivo: Rolagem infinita nas redes – fuga do vazio ou do sentimento incomodo que a tarefa evoca que a tarefa significativa provoca.

Tipos de Procrastinação e estratégias para manejo:

  • Medo de não corresponder ao ideal – tente esboçar um rascunho sem filtro. Fazer algo péssimo antes. Isso pode ajudar a ganhar confiança no seu potencial de criação.
  • Rebeldia frente a regras e imposições – tente buscar o propósito maior daquilo. De um sentido a tarefa que não o imposto a você, por exemplo, se for uma tarefa no seu trabalho, foque no salário que irá receber depois de concluída a tarefa, ou no reconhecimento que terá do seu chefe por ter entregado a tempo.
  • Desconexão do desejo ou sentido da tarefa – procure questionar os sentimentos emergente ao pensar nessa tarefa, entenda o que ela evoca em você. Muitas vezes essa tarefa pode evocar gatilhos de outras situações ou feridas que já vivenciou e aparentemente não parecem ter relação com a atual.

Técnicas que podem ajudar a lidar com a Procrastinação

Diálogo com a Sombra

  • Pergunte-se: “Qual emoção eu evito ao adiar esta tarefa?” (Raiva? Medo? Tédio?).
  • Escreva uma carta da sua “parte procrastinadora” – o objetivo desse exercício é dar voz ao incomodo, buscando integrá-lo a consciência.

Ritual de Início

  • Associe o começo da tarefa a um símbolo pessoal (acender uma vela, preparar o ambiente de trabalho, fazer um café). Esses pequeno ritos podem ajudar a condicionar o nosso corpo para o momento de foco na tarefa.

Tempo Sagrado vs. Profano

  • Outras dicas práticas que podem te ajudar é primeiro acolher em você que está tarefa é difícil de ser concluída e por isso, precisa respeitar o seu tempo para efetuá-la. Com isso, determine intervalos alternados de ócio e produtividade. Por exemplo: 25 min de tarefa 5 min de ócio e vá repetindo. Esse sistema mostra ao seu corpo que ele está sendo ouvido e que logo terá um intervalo novamente, ou seja, ele não entende que não precisa entrar em estado de fuga da tarefa, pois sabe que logo terá um respiro, e assim será mais fácil conclui-la.

Gabriela Gomes do Nascimento

Psicóloga junguiana – CRP 06/165019

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